sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Desertores da estética | PIXAÇÃO: A arte em cima do muro

Contra o muro podem
Islington, Londres 

encostar-se indivíduos 
em ato de fuzilamento.
Também se pode em um muro
dizer, em cartazes ou letras 
pintadas, palavras como “Paz”, “Merda” ou “Viva a Democracia". 
Mas há o outro lado:
O lado de um muro onde moram as pessoas 
que amam, trabalham e sofrem 
– por sobre o qual (lado) 
se acredita a linha estendida 
de um presente mar-horizonte 
na distancia interior 
dos sonhos e das criações.
Silveira de Souza / Hassis

ARTE. Como uma palavra tão curta pode carregar tantos significados e preconceitos, não é mesmo? Quando pensamos na arte marginalizada da pixação e a comparamos com o graffiti, fica claro como manifestações artísticas similares geram percepções opostas. A pixação, com seu caráter rebelde, confronta diretamente o graffiti, muitas vezes confundido com ela.

PIÁ, Joinville (SC)

Luiz Henrique Pereira Nascimento — filósofo, ativista, professor e artista — dedicou três anos ao estudo da pixação e lançou o livro PIXAÇÃO: A arte em cima do muro (2015), no qual aborda profundamente essa forma de arte marginalizada feito pelos pichadores, desertores da estética artística tradicional.

Arte produto

A definição de arte, hoje, está fortemente atrelada à indústria cultural. Esse conceito rígido e comercial transforma a arte em um simples produto de entretenimento. Segundo Nascimento (2015), a indústria cultural liquidou a arte. Esse processo limita a expressão artística, restringindo sua capacidade libertadora. A arte, em seu cerne, no entanto, tem o poder de romper com a lógica mercadológica, que prende o indivíduo à produção e ao consumo.

A arte tem um caráter libertador dessa realidade coisificante, que prende o indivíduo a sua existência mercadológica, dividida entre produção e consumo. 

PIXO: uma poesia ilegível

A escrita característica da pixação — ilegível para muitos — é uma marca dessa arte rebelde. Enquanto lugares como o Beco do Batman em São Paulo, Wynwood em Miami, STRATT em Amsterdam ou Brick Lane em Londres, são admirados por seus murais coloridos, carregados de signos e ilustrações, os muros pichados nos bairros próximos, até mesmo pelas redondezas da nossas vizinhança, costumam ser vistos como símbolo de vandalismo ou malandragem e desleixo de proprietários. 

Museu STRATT em Amsterdam

Essa falta de comunicação clara na pixação gera incômodo, pois a linguagem é essencial para entendermos o mundo ao nosso redor. No entanto, a mensagem do pixo transcende a necessidade de ser lida: ela é uma forma de expressão, que reflete um grito abafado de muitos que não têm outra forma de se manifestar.

Os muros e a pixação

Os muros, principal suporte dos pichadores, há séculos, simbolizam barreiras, divisões e segurança. Eles separam o "bem" — a casa, a empresa a escola, a prisão — do "mal", representado pela cidade e tudo aquilo que não podemos controlar - mesmo que não conseguimos controlar nós mesmos.

Pichar um muro é um ato de rebeldia, um manifesto que libera o que sufoca. É uma expressão legítima e comum, que vai além da estética pensada para ser aplaudida ou vendida no mercado de arte.


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