Nasci para conhecer-te
E chamar-te
Liberdade.
Na saudosa, que sequer vivi, década de 80, a L&PM publicou dentro de sua série Biblioteca Anarquista (reeditada nos anos 2000), textos do filósofo russo Mikhail Bakunin. Deus e o Estado, A Igreja e o Estado e a tensa relação com Marx compõem a seleção de textos primorosamente organizada pelo pensador francês contemporâneo de Bakunin Daniel Guérin.
Este livro é um convite à reflexão profunda sobre o poder das instituições em nossas vidas. Bakunin nos guia por um caminho íngreme, onde as instituições tradicionais – família, escola, religião e trabalho – são dissecadas e expostas como instrumentos de aniquilamento da liberdade individual e coletiva.
O filósofo defende que os filhos não pertencem aos pais, que tem por missão, apenas preparar as crianças para uma educação racional e viril, pautada no respeito ao próximo. Para Bakunin, as crianças, assim como os adultos, pertecem apenas à si próprio.
Quanto à escola, em sua visão, assume o papel de substituir a igreja, fazendo jus ao seguintes valores:
A razão, a verdade, a justiça, o respeito humano, a consciência da dignidade pessoal, solidária e inseparável da dignidade humana no outro, o amor da liberdade por si mesma e por todos os outros, o culto do trabalho como base e condição de direito; o desprezo pelo desatino, pela mentira, pela injustiça, pela covardia, pela escravidão e pela ociosidade, estas deverão ser as bases fundamentais da edução pública.
A fé não é abolida, mas sim destituída do poder oficial, defendendo a real laicidade do Estado. E no que concerne o trabalho, relaciona-se como algo que priva o indivíduo do lazer, da inteligência e da liberdade. O trabalho, para Bakunin, degrada, esmaga e mata o indivíduo. Divide-se em dois extremos:
O trabalho humano, considerado na sua totalidade, divide-se em duas partes, uma das quais, intelectual e exclusivamente nobre, compreende as ciências, as artes, e, na indústria, a aplicação das ciências e das artes, a ideia, a concepção, a invenção, o cálculo, o governo e a direção geral ou subordinado pelas forças operárias, e a outra apenas a execução manual reduzida a uma ação puramente mecânica, sem inteligência, sem ideia.
Bakunin, amante fanático da liberdade, disserta sobre a relação individual e coletiva dentro do que concebemos a liberdade, considerada um fato não isolado. Sendo assim, para o filósofo, a liberdade de todos é a condição primária da nossa própria liberdade.
Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres.
Ler Bakunin é repensar liberdade, é lutar por ela como um bem comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário