Atira para o mar as tuas coisas
abandona os teus pais
muda de nome
esquece a pátria
parte sem bagagem
fica mudo e ensurdece
abre os teus olhos.
Se o teu amor não vale tudo isso
então fica onde estás
gelado e quieto.
O amor só sabe ir de mãos vazias
e só vale se for
o único projeto.
segunda-feira, 19 de maio de 2025
Para cortar as amarras: Atira para o mar (Renata Pallottini)
sexta-feira, 25 de abril de 2025
O que restou do Itabirito
Minas Gerais é o berço da mineração no país e também do poeta Carlos Drummond de Andrade. Em 1965, ele escreveu um poema-alerta sobre o Pico Itabirito, um amontoado rochoso constituído de minério de ferro com aproximadamente 1586 metros de altura.
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Pico Itabirito em 1956 | Vitto Rocco Melillo / IEPHA-MG |
O Pico Itabirito está localizado na região da Serra das Serrinhas em Itabira, uma cidadezinha no centro de Minas Gerais. O Pico encontra-se em uma área potencialmente atrativa para as mineradoras de ferro. Em 1940, o terreno foi vendido para uma companhia britânica de mineração e atualmente pertence à Vale.
sábado, 12 de outubro de 2024
Manoel de Barros: a necessidade de ser rio, folha, pedra…
Menino do Mato (2010) é um livro de Manoel de Barros que reúne poemas que abraçam a natureza, o verde, a pedra, a primavera, o sol e tudo que compõe o universo do poeta da roça. O texto marcado pela linguagem simples do poeta matogrossense explora sua relação com a natureza. Um mergulho na infância e na simplicidade da roça com poemas impregnados de uma visão única do mundo:
Eu queria ser banhado por um rio como um sítio é.
Como as árvores são.
Como as pedras são.
Eu fosse inventado de ter uma garça e outros pássaros em minhas árvores.
Eu fosse inventado como as pedrinhas e as rãs em minhas areias.
Eu escorresse desembestado sobre as grotas e pelos cerrados como os rios.
Sem conhecer nem os rumos como os andarilhos.
Livre, livre é quem não tem rumo.
Aqui, o rio, as árvores e as pedras representam estados de ser. O desejo de "ser banhado por um rio como um sítio é" e "como as árvores são" demonstra uma profunda aspiração por uma integração completa e harmoniosa com o ambiente natural.
sábado, 29 de junho de 2024
Quero morrer escrevendo (Dorly Antônio Follmann)
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Joyce Hankins (Unsplash) |
Eu também quero. Em Cantos da Cigarra: ensaiando primaveras, Dorly Antônio Follmann nos presenteia com 53 poemas sensíveis. Mais do que versos de um professor de Língua Portuguesa, encontramos a alma de um poeta que busca na escrita a fuga e o prazer.
Escrevo para quem ainda tem fome,
Para quem já encheu o vazio da solidão
E agora tem à mão a fartura.
Escrevo para quem tem alma pura
E coração carregadinho de amor
Escrevo…
O frasco virou
Escrevo…
Hoje é moda.
Quero ocupar o tempo,
Quero sentir o afago das palavras
Caindo no papel.
Escrevo…
Puro fel na cicatriz do tempo.
Escrevo…
O vento vai tombando a dor.
Quero morrer escrevendo
Mil versos pro meu amor.
Minha memória guarda o encontro com Dorly na Biblioteca Pública de Guaramirim, local onde trabalhei. Sua presença, mesmo em uma breve conversa no balcão de atendimento, foi suficiente para revelar a paixão que o consumia: a poesia.
Dorly transforma a escrita em um portal para a liberdade, um escape da realidade mundana. Cada verso é um refúgio, um bálsamo para a alma. A linguagem se torna um instrumento de fuga e prazer, permitindo ao poeta explorar as profundezas de seus sentimentos e pensamentos.
sábado, 1 de junho de 2024
Poesia e colagem: Bananas Podres (Ferreira Gullar)
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Bananas Podres |
Publicado em 2011 pela editora Casa da Palavra, Bananas Podres, do poeta maranhense Ferreira Gullar, compila os poemas “Bananas Podres”, “Bananas Podres 2”, publicados primeiramente em Na vertigem do dia (1975-80), e “Bananas Podres 3”, “Bananas Podres 4” e “Bananas Podres 5”, publicados na obra Em Alguma Parte Alguma (2010).
sábado, 25 de maio de 2024
Analisando o poema "Imagem” de Arnaldo Antunes
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
Requisitos para tecer uma manhã - análise de "Tecendo a manhã" (João Cabral de Melo Neto)
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.