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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Italo Calvino, o inventor de cidades

Um dia o escritor Italo Calvino teve um sonho, nesse sonho, cidades estranhas se erguiam, com peculiaridades nunca vistas antes. Não foi assim que nasceu o livro As cidades invisíveis (1972) mas eu gosto de imaginar que foi...

Pensar em As cidades invisíveis é pensar num sonho surrealista. Por que não dizer que Italo Calvino tende a ser surrealista na escrita deste livro? Criar cidades não é um ato megalomaníaco (não nesta obra!), mas uma possibilidade de invenção onde o território livre da mente se faz necessário.

Ândria foi construída com tal arte que cada uma de suas ruas segue a órbita de um planeta e os edifícios e os lugares públicos repetem a ordem das constelações e a localização dos astros mais luminosos: Antares, Alpheratz, Capela, as Cefeidas. O calendário da cidade é regulado de modo que trabalhos e ofícios e cerimônias se disponham num mapa que corresponde ao firmamento daquela data: assim, os dias na terra e as noites no céu se espelham. (p.136)

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O direito de deitar na grama

 


Deitar na grama carrega em si a essência da preguiça e da liberdade. Não vagabundeei o suficiente, mas o pouco que experimentei foi suficiente para perceber que deitar — seja na grama, no ponto de ônibus, no banco da rodoviária, no parque ou em qualquer espaço minimamente confortável e aparentemente seguro, exige audácia, especialmente quando você é mulher.

O conto Moça deitada na grama, pois assim o interpreto, muito mais que crônica, que dá título ao livro de Carlos Drummond de Andrade, apresenta uma heroína urbana movida pela vontade e satisfação de ser o que bem deseja naquela tarde. Um ato simplório, mas implorável de se repetir, no patriarcado que se sobressai até hoje: uma mulher sozinha deitar na grama ou, simplesmente, o encontro do corpo com a tranqüilidade, fruída em estado de pureza.