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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Sair catando mato - experiência de leitura As Plantas Curam

Livro com plantas na capa e também ao fundo

Pode parecer tolice compartilhar esta experiência, mas ultimamente tenho me permitido ser mais autêntica do que teórica ao falar sobre livros aqui no blog Pertinências Literárias. Minha leitura mais recente foi no meio do mato, com o livro nas mãos, faminta e sedenta por conhecimento.

Há tempos observo na natureza uma força comparável a de muitos remédios. Não me agrada o termo poder, pois me faz sentir excessivamente crente em algo, inclusive ao me referir a este livro, As Plantas Curam (1992).

Fui à biblioteca em busca de um tema: plantas e seus efeitos benéficos no corpo humano. Foi aí que encontrei As Plantas Curam, um livro de Alfons Balbach, um pastor-escritor como qualquer outro, como C.S. Lewis ou, ainda que não Pastor, mas ligado à religião, Frei Betto (escrevi sobre o clássico necessário Batismo de Sangue aqui).

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O tragicômico em Gaetaninho (Alcântara Machado)

Cartaz de funerária no uruguay
Funerária em Aiguá, interior do Uruguay.

Quem nunca teve um desejo minimamente mórbido? Bem, quase ninguém, acredito. E, ainda se o tivesse, talvez não ousaria contar. Por isso, creio que é difícil colocar em planilhas esse fato.

Mas com Gaetaninho é diferente. Uma boleia num carro fúnebre era seu sonho de menino.

Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.

Gaetaninho é um conto Modernista de Alcântara Machado, datado de 1927. É uma história simples, curta e grossa trágica sobre um garoto pobre que vive em um mundo onde carros são privilégios modernistas.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Um texto didático, Um apólogo (Machado de Assis)

Um Apólogo, de Machado de Assis, é um apólogo, um texto com personagens inanimados. A história se desenrola a partir de uma conversa, minimamente narcisista, entre uma agulha e uma linha.

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? 

As duas atravessam a narrativa discutindo sobre a importância de cada uma no processo de costura de um vestido. Entre jogos de orgulhos, as duas defendem seu trabalho na costura do vestido da baronesa.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Cuidado com os Capitães da Areia

Joshua Woroniecki | Unsplash
Capitães da Areia (1937), é um clássico de Jorge Amado e também da literatura brasileira. A leitura deste livro exige atenção, como quem caminha pelos cantos e cais de Salvador com olhos bem abertos.

Em poucas páginas, os garotos de rua tomam o leitor de assalto, não com violência gratuita, mas com a urgência de quem nunca teve tempo para ser criança.
Desde pequenos, na arriscada vida da rua, os Capitães da Areia eram como homens, eram iguais a homens. Toda a diferença estava no tamanho. No mais, eram iguais: amavam e derrubavam negras no areal desde cedo, furtavam para viver como os ladrões da cidade. Quando eram presos apanhavam surras como os homens. Por vezes assaltavam de armas na mão como os mais temidos bandidos da Bahia. Não tinham também conversas de meninos, conversavam como homens. Sentiam mesmo como homens. Quando outras crianças só se preocupavam com brincar, estudar livros para aprender a ler, eles se viam envolvidos em acontecimentos que só os homens sabiam resolver. Sempre tinham sido como homens, na sua vida de miséria e de aventura, nunca tinham sido perfeitamente crianças. (p. 244)

segunda-feira, 2 de junho de 2025

"Batismo de Sangue" e a esquerda católica no Brasil

Maria Fernanda Pissioli | Unsplash

Publicado em 1982, Batismo de Sangue: guerrilha e morte de Carlos Marighella, do frade Frei Betto, é um valioso registro histórico para compreendermos a silenciosa atuação da esquerda católica durante a Ditadura Militar no Brasil. A atuação deste grupo foi profundamente marcada pela compaixão cristã, um pilar de amor, mas também de ação e revolta

Longe de se manter alheia à repressão, uma parcela significativa da Igreja Católica brasileira teceu uma rede de proteção que acolheu militantes perseguidos de todo o país e, inclusive, de outras Ditaduras pela América do Sul, oferecendo-lhes refúgio e apoio em face da violência estatal.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Para cortar as amarras: Atira para o mar (Renata Pallottini)

 Quando decidimos ir, não há quem mude nossa ideia. E não há nada mais bonito que ir, respeitando a liberdade, respeitando a si mesmo - talvez o maior ato de amor e amor-próprio que podemos fazer.

Um poema sobre liberdade que mexe comigo há mais tempo do que posso lembrar é o Atira para o mar de Renata Pallottini, escritora brasileira que se destacou, sobretudo, na dramaturgia nacional. 

Dá uma lida abaixo e diz pra mim o que tu sente ao ler:

Atira para o mar as tuas coisas

abandona os teus pais

muda de nome


esquece a pátria

parte sem bagagem

fica mudo e ensurdece

abre os teus olhos.


Se o teu amor não vale tudo isso

então fica onde estás

gelado e quieto.


O amor só sabe ir de mãos vazias

e só vale se for

o único projeto.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Vou me embora para Tatipirun

 Se existe uma terra onde todos são livres, sem julgamentos, sem guerra e sem amo é Tatipirun. Eu te garanto! Essa terra foi inventada por Raimundo, o herói dos oprimidos em A terra dos meninos pelados.

A terra dos meninos pelados é um livro escrito por Graciliano Ramos logo após ser libertado da prisão em Ilha Grande no ano de 1937. Nacionalmente conhecido por Vidas Secas (1938), o amargurado clássico da cadelinha Baleia, o livro em questão contrasta-se por ser uma obra infantojuvenil.

Ué! Mas feito fábula pra adultos, é tão necessário quanto Monteiro Lobato, Andersen, Orwell e outras recomendações da farmácia universal de literatura. Graciliano Ramos - pegue esta indicação.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

A angústia cotidiana em "Os Ratos" (Dyonélio Machado)

Publicado em 1935, Os Ratos, de Dyonélio Machado, é um romance que mergulha na ansiedade de um homem comum diante de uma dívida aparentemente banal, mas devastadora. O protagonista, Naziazeno, representa o cidadão urbano sem privilégios, esmagado pelo sistema e pela obrigação de pagar o leiteiro.

sexta-feira, 28 de março de 2025

O vazio de setembro em João Ubaldo Ribeiro

Setembro não tem sentido é o primeiro romance de João Ubaldo Ribeiro, lançado em 1968. Ambientada durante as celebrações do feriado de Sete de Setembro nos anos 60, a narrativa entrelaça duas histórias, a de Tristão, um boêmio que constantemente perturba os eventos da Semana da Pátria em Salvador com suas incessantes bebedeiras, e a de Orlando, um jornalista aposentado que vive isolado, relembrando seu passado com amargura enquanto sua sanidade se deteriora.

delírio recortado 

sexta-feira, 21 de março de 2025

"Lua crescente em Amsterdã" e os perrengues de viagem

Lua crescente em Amsterdã, conto de Lygia Fagundes Telles presente no livro Seminário dos Ratos (1977), é uma narrativa que mistura o cotidiano com o fantástico. A história acompanha um casal que, além de estar sem dinheiro, enfrenta dificuldades de comunicação em um país estrangeiro

Entre diálogos cortantes e reflexões existenciais, o conto leva o leitor a um desfecho inesperado, marcado pela metamorfose dos personagens.  

sexta-feira, 14 de março de 2025

O lar desconstruído em Apelo (Dalton Trevisan)

O pequeno conto Apelo de Dalton Trevisan aborda perda e saudade, explorando a desordem emocional e doméstica causada pela ausência de uma mulher. Através da voz de um marido aflito, Trevisan revela a dependência emocional e prática em relação à figura feminina, um reflexo dos estereótipos de gênero presentes na sociedade.

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Memória e resistência: Ainda estou aqui (Marcelo Rubens Paiva)

ainda-estou-aqui-pertinências-literárias-blog

Mais do que um livro sobre saudades, Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva, é uma história sobre memória. 

A memória não é a capacidade de organizar e classificar recordações em arquivos. Não existem arquivos. A acumulação do passado sobre o passado prossegue até o nosso fim, memória sobre memória, através de memórias que se misturam, deturpadas, bloqueadas, recorrentes ou escondidas, ou reprimidas, ou blindadas por um instinto de sobrevivência. (p.25) 

O autor revisita o passado com um olhar especial para sua mãe, Eunice Paiva, retratada como uma mulher forte, vaidosa e destemida, especialmente após o desaparecimento e assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, vítima da ditadura militar no Brasil.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Neurose de um homem só em “A Miniatura” (Elisa Palatnik)

A Miniatura (2005) é um romance cativante que combina humor ácido e suspense intrigante, escrito por Elisa Palatnik. A trama gira em torno de Emílio, um miniaturista introspectivo e neurótico que vive uma relação peculiar com Inês, sua namorada misteriosa - e alta!

Etactics Inc - Unsplash

sábado, 14 de dezembro de 2024

O feminino em voga: As Três Marias - Rachel de Queiroz

Três mulheres, três Marias: Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória. Três meninas enviadas a um colégio interno de freiras, onde constroem uma amizade profunda, marcada por segredos, cumplicidade e os sonhos típicos da juventude. Apesar da rigidez do internato, as três meninas encontram conforto e apoio umas nas outras, formando um fio de amizade que se estende até a vida adulta. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O direito de deitar na grama

 


Deitar na grama carrega em si a essência da preguiça e da liberdade. Não vagabundeei o suficiente, mas o pouco que experimentei foi suficiente para perceber que deitar — seja na grama, no ponto de ônibus, no banco da rodoviária, no parque ou em qualquer espaço minimamente confortável e aparentemente seguro, exige audácia, especialmente quando você é mulher.

O conto Moça deitada na grama, pois assim o interpreto, muito mais que crônica, que dá título ao livro de Carlos Drummond de Andrade, apresenta uma heroína urbana movida pela vontade e satisfação de ser o que bem deseja naquela tarde. Um ato simplório, mas implorável de se repetir, no patriarcado que se sobressai até hoje: uma mulher sozinha deitar na grama ou, simplesmente, o encontro do corpo com a tranqüilidade, fruída em estado de pureza.

sábado, 9 de novembro de 2024

Torto Arado: sobre mulheres fortes

É um livro sobre mulheres fortes. Foi o que Carla disse quando me sugeriu Torto Arado (2019) de Itamar Vieira Junior. E sobre ser uma mulher forte, eu acredito no meu potencial destrutivo e regenerativo em 28 anos de vida.

A cena da faca ainda permanece na minha mente, talvez a mais forte da Literatura  (sim, com L maiúsculo),  superando até mesmo o salto de Anna Karenina sob a plataforma de trem.

Torto Arado é a vida sofrida em sua amálgama de terra, fome, excesso de patriarcado, sangue e traumas. Transita entre coragem e medo, entre sobreviver e fazer valer o que bate dentro de nós - mulheres ou homens. Mas, principalmente: mulheres.


Cada mulher sabe a força da natureza que abriga na torrente que flui de sua vida.


sábado, 12 de outubro de 2024

Manoel de Barros: a necessidade de ser rio, folha, pedra…


Menino do Mato (2010) é um livro de Manoel de Barros que reúne poemas que abraçam a natureza, o verde, a pedra, a primavera, o sol e tudo que compõe o universo do poeta da roça. O texto marcado pela linguagem simples do poeta matogrossense explora sua relação com a natureza. Um mergulho na infância e na simplicidade da roça com poemas impregnados de uma visão única do mundo:


Eu queria ser banhado por um rio como um sítio é.

Como as árvores são.

Como as pedras são.

Eu fosse inventado de ter uma garça e outros pássaros em minhas árvores.

Eu fosse inventado como as pedrinhas e as rãs em minhas areias.

Eu escorresse desembestado sobre as grotas e pelos cerrados como os rios.

Sem conhecer nem os rumos como os andarilhos.

Livre, livre é quem não tem rumo.


Aqui, o rio, as árvores e as pedras representam estados de ser. O desejo de "ser banhado por um rio como um sítio é" e "como as árvores são" demonstra uma profunda aspiração por uma integração completa e harmoniosa com o ambiente natural.

sábado, 6 de julho de 2024

O que é Ideologia? Marilena Chaui

diana kereselidze (Unsplash)

Marilena Chaui, renomada socióloga, nos convida a uma profunda reflexão sobre o conceito de ideologia em sua obra O que é Ideologia?, um clássico da série Primeiros Passos. Através de uma linguagem clara e concisa, a autora desvenda a complexa relação entre ideias, valores, normas e a dinâmica social.

Para ela, a ideologia não se limita ao plano abstrato das ideias, mas também se concretiza em normas de conduta que orientam o comportamento individual e social. 

Ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas (de conduta) que indicam e prescrevem o que se deve pensar, sentir, valorizar e fazer. 

Chaui também destaca a relação entre a teoria e a prática:

  • A teoria manda: as ideias e valores presentes na ideologia servem como base para a construção de normas e diretrizes sociais.
  • A prática obedece: já as normas e diretrizes influenciam o comportamento individual e moldam a realidade social.

O que é Ideologia? é uma leitura fundamental para quem busca compreender as forças que movem a sociedade.

Leia também:

Feminismo sem floreios: O que é feminismo?

Eu livre lendo Bakunin

sábado, 29 de junho de 2024

Quero morrer escrevendo (Dorly Antônio Follmann)

Joyce Hankins (Unsplash)

Eu também quero. Em Cantos da Cigarra: ensaiando primaveras, Dorly Antônio Follmann nos presenteia com 53 poemas sensíveis. Mais do que versos de um professor de Língua Portuguesa, encontramos a alma de um poeta que busca na escrita a fuga e o prazer.

Escrevo para quem ainda tem fome,

Para quem já encheu o vazio da solidão

E agora tem à mão a fartura.

Escrevo para quem tem alma pura

E coração carregadinho de amor

Escrevo…

O frasco virou

Escrevo…

Hoje é moda.

Quero ocupar o tempo,

Quero sentir o afago das palavras

Caindo no papel.

Escrevo…

Puro fel na cicatriz do tempo.

Escrevo…

O vento vai tombando a dor.

Quero morrer escrevendo

Mil versos pro meu amor.

Minha memória guarda o encontro com Dorly na Biblioteca Pública de Guaramirim, local onde trabalhei. Sua presença, mesmo em uma breve conversa no balcão de atendimento, foi suficiente para revelar a paixão que o consumia: a poesia.

Dorly transforma a escrita em um portal para a liberdade, um escape da realidade mundana. Cada verso é um refúgio, um bálsamo para a alma. A linguagem se torna um instrumento de fuga e prazer, permitindo ao poeta explorar as profundezas de seus sentimentos e pensamentos.

sábado, 1 de junho de 2024

Poesia e colagem: Bananas Podres (Ferreira Gullar)

Bananas Podres

Publicado em 2011 pela editora Casa da Palavra, Bananas Podres, do poeta maranhense Ferreira Gullarcompila os poemas “Bananas Podres”, “Bananas Podres 2”, publicados primeiramente em Na vertigem do dia (1975-80), e “Bananas Podres 3”, “Bananas Podres 4” e “Bananas Podres 5”, publicados na obra Em Alguma Parte Alguma (2010).