A ilha ao meio-dia ou La isla a mediodía é um pequeno conto do escritor argentino Julio Cortázar. Essa história está reunida no livro de contos Todos los fuegos el fuego (Todos os fogos o fogo), publicado em 1966.
O conto possui dois elementos fundamentais para a construção da narrativa: um avião e uma ilha. Nestes, a história se desenrola e se interliga.
Cortázar nos apresenta Marini, um comissário de bordo italiano que está cansado da sua rotina de trabalho, mesmo carregando consigo o desejo latente de aterrissar em uma das ilhas que faz parte da sua rota Roma-Teerã, a ilha grega Xiros.
O título desta história se dá por conta do horário em que a aeronave passa pela ilha. O mesmo horário em que Marini vislumbra aquele pedaço de terra solto pelo mar Egeu.
"O tempo ia passando em coisas desse gênero, em infinitas bandejas de comida, cada uma com o sorriso ao qual o passageiro tinha direito. Nas viagens de volta, o avião sobrevoava Xiros às oito da manhã; o sol batia nas janelas de bombordo e apenas deixava entrever a tartaruga dourada; Marini preferia esperar os meio-dias dos voos de ida."
Ao chegar na ilha, Marini estava decidido: vou ficar! Gostou do que viu e viveu.
"Soube, sem a menor dúvida, que não deixaria a ilha, que de uma ou de outra maneira nela ficaria para sempre. Chegou a imaginar seu irmão, Felisa, a cara dos dois quando soubessem que ficara vivendo da pesca num penhasco solitário."
Estava se habituando a sua nova rotina, simples, mas satisfatória: pescar, nadar, tomar banho de sol. Era seu sonho sendo alimentado. Kaliméra!
Certo dia, enquanto tomava banho de sol recostado em uma pedra, Marini escutou um som familiar. Era um avião sobrevoando a sua ilha. Ele tentou ignorar, como se aquilo não lhe pertencesse mais, mas a memória insistia em trazer seus colegas de trabalho. No entanto, algo ruim estava para acontecer.
"Incapaz de lutar contra tanto passado abriu os olhos e se levantou, e no mesmo momento viu a asa direita do avião, quase sobre sua cabeça, inclinando-se inexplicavelmente, ouviu a mudança do som das turbinas, a queda quase vertical em direção ao mar."
Desesperado, Marini se lança ao mar para salvar aqueles que poderiam ser seus colegas de trabalho. Nosso herói sonhador tem sua utopia interrompida por um desastre aéreo. Marini chega à areia com um corpo.
"Arrastando-o pouco a pouco, trouxe-o até a praia, tomou nos braços o corpo vestido de branco e, estendendo-se na areia, olhou o rosto cheio de espuma onde a morte já estava instalada."
Referência:
CORTÁZAR, Julio. Todos os fogos o fogo. Trad. Glória Rodrigues. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1995.
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