sexta-feira, 21 de março de 2025

"Lua crescente em Amsterdã" e os perrengues de viagem

Lua crescente em Amsterdã, conto de Lygia Fagundes Telles presente no livro Seminário dos Ratos (1977), é uma narrativa que mistura o cotidiano com o fantástico. A história acompanha um casal que, além de estar sem dinheiro, enfrenta dificuldades de comunicação em um país estrangeiro

Entre diálogos cortantes e reflexões existenciais, o conto leva o leitor a um desfecho inesperado, marcado pela metamorfose dos personagens.  

Desde as primeiras linhas, a fome e a frustração dão o tom da narrativa. A jovem pede um pedaço de bolo, mas a barreira linguística impede que ela seja compreendida:  

– Vai me dar um pedaço deste bolo? — pediu a jovem estendendo a mão. — Me dá um pedaço, hem, menininha?

– Ela não entende — ele disse. A jovem levou a mão até a boca.

– Comer, comer! Estou com fome — insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. — Quero comer!

– Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.

A cena reflete a sensação de deslocamento dos protagonistas, reforçada pela ironia da resposta: A língua de Amsterdã. A incomunicabilidade e o desconforto da fome exacerbam os conflitos entre o casal.

No clímax do conto, a realidade dá lugar à fantasia: os personagens se transformam em um pássaro e uma borboleta. Essa reviravolta inesperada lembra outros contos de Lygia Fagundes Telles, como As Formigas e Tigrela, onde o real e o surreal se entrelaçam.  

O desfecho pode ser interpretado de diversas formas: uma libertação dos problemas mundanos ou até um devaneio gerado pela fome.

7 de setembro de 2024 ou a Larica dos Dias

Futurola

A cada moeda contada e cara fechada dos locais em Amsterdã eu lembrava dessa historia. Mais de 30 horas de ônibus partindo de Santiago da Compostela com destino a Paris e depois mais um perrengue na Cidade Luz com o atraso de cinco horas de um FlixBus setentista em direção a Amsterdã. Eu só queria comer.
Poderiam ser girassóis a primeira refeição na capital holandesa, mas foi um folhado recheado com um embutido de porco adocicado precedido de um poke de supermercado. Foi o que forrou meu estômago, vazio há mais de 24 dias. E foi assim, em eterna fome, meus dias em Amsterdã.



Nenhum comentário:

Postar um comentário