Lua crescente em Amsterdã, conto de Lygia Fagundes Telles presente no livro Seminário dos Ratos (1977), é uma narrativa que mistura o cotidiano com o fantástico. A história acompanha um casal que, além de estar sem dinheiro, enfrenta dificuldades de comunicação em um país estrangeiro.
Entre diálogos cortantes e reflexões existenciais, o conto leva o leitor a um desfecho inesperado, marcado pela metamorfose dos personagens.
Desde as primeiras linhas, a fome e a frustração dão o tom da narrativa. A jovem pede um pedaço de bolo, mas a barreira linguística impede que ela seja compreendida:
– Vai me dar um pedaço deste bolo? — pediu a jovem estendendo a mão. — Me dá um pedaço, hem, menininha?
– Ela não entende — ele disse. A jovem levou a mão até a boca.
– Comer, comer! Estou com fome — insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. — Quero comer!
– Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.
A cena reflete a sensação de deslocamento dos protagonistas, reforçada pela ironia da resposta: A língua de Amsterdã. A incomunicabilidade e o desconforto da fome exacerbam os conflitos entre o casal.
No clímax do conto, a realidade dá lugar à fantasia: os personagens se transformam em um pássaro e uma borboleta. Essa reviravolta inesperada lembra outros contos de Lygia Fagundes Telles, como As Formigas e Tigrela, onde o real e o surreal se entrelaçam.
O desfecho pode ser interpretado de diversas formas: uma libertação dos problemas mundanos ou até um devaneio gerado pela fome.
7 de setembro de 2024 ou a Larica dos Dias
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Futurola |
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