Ler João Ubaldo Ribeiro é um convite a pensar de maneira realista, leve e cotidiana da única certeza na vida: a morte. Em O Albatroz Azul (2009), nosso herói baiano, cujo nome icônico de Tertuliano Jaburu passeia de mãos dadas com a morte e na certeza desse destino, ele vai aproveitando seus últimos dias de vida para relembrar o nascimento do neto tão desejado e confabular com seus compadres daquele pedaço fictício da Bahia.
Nesse vai e vem de diálogos, João Ubaldo Ribeiro expõe pequenos fragmentos dignos de reflexão, como a Sabedoria do Murici, árvore frutífera do Cerrado, que fala que todo tempo é tempo de cuidar de nós mesmos - visto que o Murici flora e dá frutos o ano todo -, e a independência feminina da personagem Zirinha Quadra, que entre copos, lascívias e liberdade, simplesmente vai vivendo.
Ela não guardava honra entre as pernas, mas, sim, na cabeça, no coração e na altivez que ela fazia questão de manter.
Num jogo de viver a vida pensando na morte, Tertuliano, bem como qualquer outra pessoa fixada numa ideia, cai em delírios.
- Eu não sei se estás maluco, não vem a caso - disse a pedra. - Tu perguntavas a ti mesmo o que estava acontecendo. E eu não respondi que acho que é sempre assim. Quando o camarada está velho e vai morrer, fica assim, se derretendo por qualquer coisa. Antes de morrer, compreende a vida do siri, compreende todas as vidas que existem, compreende muita coisa, vê muita coisa que noutro tempo não via. É como se visse um albatroz azul, por exemplo.
- Não conheço albatroz azul. Existe albatroz azul?
- Não, mas somente até existir um albatroz azul. Antes, tu não me vias aqui, mas eu estava aqui. Hoje me vês.
- Quem é você?
- Agora sou uma pedra.
No trecho acima é possível enlaçar com a ideia do título do livro. Que seria um albatroz azul, senão um delírio da morte que se aproxima?
Li a primeira edição deste livro aos pés dos Canyons do Sul em meados de abril de 2024. Tal edição foi publicada em 2009 pela Nova Fronteira, e também foi lindamente distribuída nas escolas públicas pelo Governo Federal em 2011 através do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola).
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