sábado, 14 de dezembro de 2024

O feminino em voga: As Três Marias - Rachel de Queiroz

Três mulheres, três Marias: Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória. Três meninas enviadas a um colégio interno de freiras, onde constroem uma amizade profunda, marcada por segredos, cumplicidade e os sonhos típicos da juventude. Apesar da rigidez do internato, as três meninas encontram conforto e apoio umas nas outras, formando um fio de amizade que se estende até a vida adulta. 

Glória olhou pra mim, eu olhei pra Maria José. Sorrimos. “As três Marias”! As três Marias bíblicas? As três estrelas do céu? (QUEIROZ, 1982, p. 32)

Em As três Marias,  publicado em 1939, a escritora Rachel de Queiroz nos apresenta a história através da narrativa de Maria Augusta, ou Guta, que vai revisitando  suas memórias com seu olhar crítico e sensível. Guta é uma jovem que vive entre crises existenciais, desilusões amorosas e o anseio por liberdade em uma sociedade marcada pelo peso das tradições e expectativas impostas às mulheres.

Já Maria José possui uma personalidade profundamente ligada à religiosidade e à obediência às normas sociais. Entre devoção e paz espiritual, Maria José acaba revelando tristeza de uma vida limitada à cristandade. Maria da Glória busca ascensão social e segurança material, sendo a primeira a se casar e ter filho, compondo, assim, uma família tradicional.

As três Marias é uma reflexão sobre os papéis femininos, os dilemas da vida adulta e a inevitável passagem do tempo. Cada Maria segue um caminho distinto, representando diferentes respostas às pressões sociais. 

Foi Maria José quem lembrou de nos tatuarmos. Teve que ser na coxa, para que as irmãs não vissem. Pelo nosso gosto seria nos braços, no colo, nas espáduas; mas era forçoso evitar que as freiras descobrissem, que alguma conselheira fosse contar à Irmã Germana. [...] sentadas no chão, com as meias descidas, fizemos na coxa, com a ponta da tesourinha, as três estrelas juntas, em fila. Doeu. la-se arranhando de leve, até o sangue aparecer. Eu feria de dentes trincados, com decisão. Glória traçava os riscos devagarinho, medrosa e paciente. E Maria José, na última estrela, perdeu a coragem e foi preciso que Glória viesse ajudar com a mão macia. De vez em quando fazia uma careta, dava um gemido, e Glória levantava a mão:
- Quer que pare?
Ela sacudia a cabeça que não. Tinha que chegar ao fim, como quem cumpre um dever. (QUEIROZ, 1982, p. 33)

QUEIROZ, Rachel de. As três Marias. São Paulo, Abril Cultural, 1982. 

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