o ciclista pedala
a fantasia.”
O Ciclista (2002), de Alcides Buss
O ciclista
Alfred Jarry |
Alfred Jarry, poeta francês, pedala devagar em direção a algum lugar que o retrato não nos mostra. Mais do que uma fotografia de Jarry tirada pelo também francês Harlingue-Viollet, temos um: ciclista.
Antes de versar nesta prosa, eu havia voltado a pedalar, não porque precisasse vivenciar a experiência para poder escrever com convicção, mas porque simplesmente quis. Então eu pedalei. E só na volta, enquanto pedalava em direção ao meu destino final, a imagem de Jarry veio à mente, mas junto, veio também duas obras da literatura sulista.
Os ciclistas
Dialogar é observar e estabelecer relações saudáveis entre uma coisa e outra. E nessa de dialogar, foi possível ver que temos dois ciclistas. No pequeno conto O Ciclista (2014) de Dalton Trevisan, o personagem se aventura no caos das ruas, no “labirinto urbano”. A prosa é coberta de metáforas e referências fictícias. Ele está sempre em movimento, entregando seu sorvete e pedalando contra o tempo.
A linguagem do escritor curitibano é ágil, ele transforma a trivialidade das pedaladas de todo santo dia numa aventura urbana. Essa movimentação, onde quase se ouve as buzinas, o tranco do pé no pedal, o frear inesperado e barulhento dos carros e das bicicletas convida-me a trazer um breve diálogo entre essa obra de Trevisan e um poema de Alcides Buss, escritor catarinense.
O Ciclista de Alcides Buss pedala pelas ruas com toda liberdade possível, viaja numa fantasia como demonstra o trecho no início deste ensaio. Num dado momento, o ciclista “acorda” na realidade do “homo-operarius” e aí vem a desilusão.
“Mentira, mentira!O ciclista não pedala;ao contrário, é pedalado.”(BUSS, 2002)
É notável nas composições essa liberdade, o ciclista e seu pássaro de viagem. Aqui temos ciclistas em exercício, prosa e poesia em movimento, falando da função libertadora e também objetiva, como meio de locomoção na sobrevivência da rotina diária.
“Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.” (TREVISAN, 2014)
Referências:
BUSS, Alcides. Contemplação do Amor: 30 anos de poesia escolhida. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002.
TREVISAN, Dalton. O beijo na nuca. São Paulo: Record, 2014.
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