Publicado em 1935, Os Ratos, de Dyonélio Machado, é um romance que mergulha na ansiedade de um homem comum diante de uma dívida aparentemente banal, mas devastadora. O protagonista, Naziazeno, representa o cidadão urbano sem privilégios, esmagado pelo sistema e pela obrigação de pagar o leiteiro.
A narrativa, realista e sufocante, leva o leitor a compartilhar a aflição de um homem que se vê sem saída. Mais do que um drama individual, o livro reflete a pressão econômica e moral que até hoje atormenta trabalhadores comuns.
Naziazeno, nosso herói falido
Diferente dos heróis clássicos, Naziazeno não possui glórias ou feitos grandiosos. Ele é um funcionário público com poucos recursos.
O trabalho de Naziazeno é monótono: consiste em copiar num grande livro cheio de "grades" certos papéis, em forma de faturas. É preciso antes submetê-los a uma conferência, ver se as operações de cálculo estão certas. […] Ele já se "refugiou" nesse trabalho em outras ocasiões. Era então uma simples contrariedade a esquecer... uma preterição... injustiça ou grosseria dos homens... Mesmo assim, quando, nesses momentos, se surpreendia “entusiasmado" nesse trabalho, ordenado e sistemático como "um jogo de armar”, não era raro vir-lhe um remorso, uma acusação contra si mesmo, contra esse espírito inferior de esquecer prontamente, de "achar" no ambiente aspectos compensadores, quadros risonhos... Todos aqueles indivíduos que lhe pareciam realizar o tipo médio normal eram obstinados, emperrados, não tinham, não, essa compreensão inteligente e leviana das coisas...
Naziazeno também é um pai de família que enfrenta uma situação humilhante: a busca desesperada por dinheiro para pagar o leite. O leite, ativo na trama, é tão necessário quanto o dinheiro do leiteiro.
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Miikka Luotio | Unsplash |
Essa premissa simples se torna uma metáfora poderosa. O leite simboliza a necessidade básica de sobrevivência, enquanto a dívida representa o peso do sistema financeiro.
O combate, afinal vencido, que foi a doença do garotinho. A diarréia (de se sujar até quize vezes "nas vinte e quatro horas" - expressão do médico)... a magreza e a debilidade... os olhos caídos, tristes, profundos, de apertar a garganta da gente... E, por fim, aquela palavra terrível! terrível!
- Mas ele está mesmo atacado de MENINGITE, doutor? !...
- Não. Ainda não...
- Mas o senhor tem receio então...
- Nesses casos de desidratação, de desnutrição violenta, é sempre de recear...
- Faça tudo, doutor! Faça o que puder para salvar o meu filho... O senhor não se arrependerá, doutor! esteja certo!... O senhor ganhará o que o seu trabalho vale...
A obra Os Ratos dialoga com a realidade do capitalismo, onde, definitivamente não há espaço para falhas.
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