Eu estava tão feliz, eu podia chafurdar na lama e aquecer-me ao sol, eu podia comer e beber, grunhir e guinchar, e estava livre de meditações e dúvidas: “O que devo fazer, isto ou aquilo?”. Por que vieste? Para jogar-me outra vez na vida odiosa que eu levava antes?
Escrevo o rascunho deste texto à mão, sentada à beira-mar em uma praia quase deserta. Hoje, optei por uma vida mais analógica, enquanto reflito sobre leitura e liberdade, inspirada pelo livro Modernidade Líquida (1999), de Zygmunt Bauman. Em tempos de consumismo desenfreado e imediatismo digital, essa escolha parece quase uma rebeldia.
Mais do que abordar o consumismo, Bauman traz à tona uma reflexão profunda sobre liberdade. Vivemos condicionados a buscar uma sensação de plenitude que, frequentemente, é superestimada e efêmera. Somos incentivados a acreditar que precisamos "estar à frente", "ser capazes de tudo", e qualquer falha nesse percurso pode até nos custar amizades – porque as relações, assim como os bens de consumo, também se tornaram descartáveis.
Pessoas inseguras tendem a ser irritáveis, são também intolerantes com qualquer coisa que funcione como obstáculo a seus desejos.
Como Bauman destaca, a sociedade moderna alimenta um medo constante do fracasso, intensificado pela cultura da comparação e pelos padrões inalcançáveis, como os promovidos por influenciadores. Vivemos em busca de um estilo de vida idealizado, onde até a liberdade é transformada em mercadoria, vendida como uma sensação efêmera.
No fim, estamos cercados por desejos moldados pelo sistema: viagens que não nos conectam verdadeiramente aos lugares, produtos que prometem felicidade instantânea e a ilusão de um status inalcançável. Enquanto buscamos liberdade, muitas vezes estamos apenas trocando uma prisão por outra.
O capitalismo não entregou os bens às pessoas, as pessoas foram crescentemente entregues aos bens.
Muiiiita verdade, a pergunta é como ser livre sem ser preso a pobreza e falta de recursos, num mundo sem pena das pessoas
ResponderExcluirGrande questão, meu caro/minha cara.
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