segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A floresta sombria na mente de Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe é o mestre do suspense e da melancolia. Sendo capaz, se a sua insanidade permitir, de invadir seus sonhos com narrativas sombrias, onde paredes escondem segredos terríveis e corvos ganham um ar assassino. Na edição Poe: poemas e ensaios (1999) da Editora Globo, os poemas e ensaios são reunidos para explorar os aspectos mais melancólicos de sua obra, sem abandonar o estilo mórbido que marcou sua trajetória.

 

Não fui, na infância, como os outros

e nunca vi como outros viam.

Minhas paixões eu não podia

tirar de fonte igual à deles;

e era outra a origem da tristeza,

e era outro o canto, que acordava

o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.

Assim, na minha infância, na alba

da tormentosa vida, ergueu-se,

no bem, no mal, de cada abismo,

a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,

da rubra escarpa da montanha,

do sol, que todo me envolvia

em outonais clarões dourados;

e dos relâmpagos vermelhos

que o céu inteiro incendiavam;

e do trovão, da tempestade,

daquela nuvem que se alterava,

só, no amplo azul do céu puríssimo,

como um demônio, ante meus olhos. 

Em tom quase autobiográfico, os textos revisitam um passado repleto de solidão e introspecção. É possível enxergar o retrato da infância outsider Edgar Allan Poe  – mesmo que essa expressão seja anacrônica –, alguém que, entre a observação silenciosa e a amizade com a solidão, adentrava a selva escura da mente para experimentar o prazer do medo.

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