segunda-feira, 19 de maio de 2025

Para cortar as amarras: Atira para o mar (Renata Pallottini)

 Quando decidimos ir, não há quem mude nossa ideia. E não há nada mais bonito que ir, respeitando a liberdade, respeitando a si mesmo - talvez o maior ato de amor e amor-próprio que podemos fazer.

Um poema sobre liberdade que mexe comigo há mais tempo do que posso lembrar é o Atira para o mar de Renata Pallottini, escritora brasileira que se destacou, sobretudo, na dramaturgia nacional. 

Dá uma lida abaixo e diz pra mim o que tu sente ao ler:

Atira para o mar as tuas coisas

abandona os teus pais

muda de nome


esquece a pátria

parte sem bagagem

fica mudo e ensurdece

abre os teus olhos.


Se o teu amor não vale tudo isso

então fica onde estás

gelado e quieto.


O amor só sabe ir de mãos vazias

e só vale se for

o único projeto.

Eu ainda sinto arrepio em cada estrofe. É um poema de estrutura livre, sem rimas, sem contagens silábicas - sem rodeios! Uma marca da literatura contemporânea, no caso, poesia. Esta é uma escrita em consonância com o que o texto representa.

Esse poema é sobre sermos livres, mas, sobretudo, como eu disse acima, sobre respeitarmos os nossos próprios desejos - seja ele solo ou compartilhado

Ainda que a poetisa fale sobre amor, entendo isso como uma ação, e não como um sentimento - aquele tão conhecido, tão poetizado, tão comercializado. Renata Pallottini não escreveu um poema, mas sim uma ode à liberdade e ao amor-próprio.

Combina com esse poema: A terra dos meninos pelados de Graciliano Ramos. Conheça esse romance aqui.

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