sábado, 22 de junho de 2024

Álvaro de Campos, um outro poeta português

Fernando Pessoa disse ter depositado em Álvaro de Campos toda a emoção que não cabia em si mesmo ou na vida. Essa afirmação revela a natureza singular desse heterônimo, que se torna um receptáculo das emoções mais íntimas do poeta. 

A lírica de Campos é carregada de modernidade, rompendo com as rimas tradicionais e abraçando a liberdade formal. É a expressão de um poeta-engenheiro em busca de fuga, sedento por liberdade na Lisboa em plena expansão dos anos 30.

A poesia de Álvaro de Campos é marcada pela influência de Walt Whitman, poeta americano que celebrava a vastidão do mundo e a liberdade individual.

Abram-me todas as portas!

Por força que hei-de passar!

Minha senha? Walt Whitman!

Mas não dou senha nenhuma...

Passo sem explicações...

Se for preciso meto dentro as portas...

Sim — eu franzino e civilizado, meto dentro as portas,

Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,

Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,

E que há-de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!

Tirem esse lixo da minha frente!

Metam-me em gavetas essas emoções!

Daqui p’ra fora, políticos, literatos,

Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,

Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.

O espírito que dá a vida neste momento sou EU!

Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!

O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!

Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo, deixa-me ir...

Embora Tabacaria seja frequentemente associada a Álvaro de Campos, é importante reconhecer` a multiplicidade desse heterônimo. Campos é um ser em constante transformação, explorando diferentes estilos e temáticas em sua poesia. Sua obra abrange desde poemas introspectivos e filosóficos até textos futuristas e irreverentes.

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