Em Thoreau, sobretudo, podemos navegar entre ensaios políticos, acadêmicos, relatos de uma vida autossustentável e, como no caso de Maçãs silvestres e cores de outono, sobre macieiras e a beleza outonal. É momento de pausa, como férias da mente para aproveitar e discorrer sobre a simplicidade da vida.
A edição em questão é simplesmente bela e se destaca entre os meus livros de Henry David Thoreau. Da Editora Antígona, de 2016, ela reúne os ensaios Wild Apples (Maçãs silvestres) e Antumnal Tints (Cores de outono), datados entre 1837 a 1862.
Maçãs silvestres
Nem que tivesse cem línguas e cem bocas
E uma voz de ferro, poderia descrever todas as formas
E enumerar todos os nomes dessas maçãs silvestres. (p. 72)
O ensaio possui subcapítulos que vão desde a história às espécies deste fruto. Maçãs silvestres inicia com Thoreau nos contando a história da macieira, sua aparição anterior ao surgimento do homem. Além disso, ele menciona o seu simbolismo diante da sociedade, seja no aspecto alimentício ou fictício.
A partir de então, Thoreau descreve a relação do fruto - civilizado e selvagem - com o clima e o solo. A escrita, por vezes, torna-se mais científica do que propriamente literária - o que pode cansar o leitor que busca mais poesia do que prosa.
Apesar da linguagem, ainda é possível observar o modo Thoreau de escrever (e viver!), enaltecendo o modo simples, selvagem e hóspede da floresta.
Deixemos os nossos condimentos coadunarem-se os nossos sentidos. Para apreciar o sabor destas maçãs silvestres é indispensável que os nossos sentidos sejam vigorosos e saudáveis, ter papilas firmes e erectas na língua e no palato, que não se tornem facilmente enfraquecidas e domesticadas.
A minha experiência com as maçãs silvestres permite-me compreender por que motivo o selvagem prefere muitos tipos de alimentos que o homem civilizado rejeita. O primeiro tem o paladar de alguém que vive ao ar livre. É preciso ter um paladar selvagem para apreciar um fruto selvagem. (p. 64)
Cores de outono
Ponham-se debaixo dessa árvore e observem como as suas folhas se projectam delicadamente contra o céu, por assim dizer umas poucas de pontadas afiadas estendendo-se a partir de uma nervura mediana. (p. 139 / O Carvalho-vermelho)
Quando as folhas caem, toda a terra se torna um cemitério no qual é agradável penetrar. Gosto de passear por lá cismando nelas nas suas sepultura. (p. 123)
Neste ensaio, podemos lembrar de Walden e as descrições rotineiras do escritor, fazendo o uso do poder metafórico para falar sobre a necessidade de sermos livres - e selvagens.
THOREAU, Henry David. Maçãs silvestres e cores de outono. Antígona, Lisboa, 2016.
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