sábado, 2 de fevereiro de 2019

William Wordsworth: uma ode à natureza

Alvan Fisher (1792-1863)- Pastoral Landscape (Paisagem Pastoril) 

O campo é a paisagem preferida para muitos poetas românticos, que agoniados com ar citadino, vão à relva procurar abrigo para a alma.

William Wordsworth compõe este quadro romanesco de escritores que expressaram um certo fascínio pela natureza. Wordsworth nasceu em 7 de abril de 1770, na cidade inglesa de Cockermouth. A poesia wordsworthiana é construída de forma simples. Sendo um poeta visual, contempla as descrições de espaço, e simples de linguagem, atento não às construções de floreios metafóricos que carregam o romantismo classicista, mas sim às descrições de paisagens e de sentimentos, de forma clara, coloquializada, penetrando literariamente na consciência do leitor.

E nestas pedras estéreis, salpicadas
Com fetos, urze, cardos e juníperos,
Fixando o olhar baixo, ele, de horas mórbidas
Desfrutou, neste sítio desenhando
Um emblema prà sua vida estéril:
E, erguendo a cabeça, contemplaria
As paisagens remotas, — quão amáveis
Visões, — contemplaria até que fosse
Muito mais, e o seu peito transbordasse
De beleza, ’inda mais bela! Nem quando
À natureza ele já submisso,
Esqueceria os Seres a cujas mentes,
Cheias com obras de benevolência,
O mundo, a vida humana, aparentassem
Doçura igual: então suspiraria
No imo inquieto, pensar que outros sentiam
O que ele não devia: homem perdido!

Trecho do poema titulado apenas como Lines (Versos) – possivelmente sem título original -, de 1795.


O maior poeta romântico da pré-modernidade inglesa deixou para o acervo da literatura mundial poesias bucólicas e também lamentosas sobre a solidão e o vazio miserável do homem preso às engrenagens, durante a efervescência da Primeira Revolução Industrial. Atormentado pela cidade, Wordsworth traçou sozinho sua rota de fuga para o relvado inspirador. 


Os passarinhos das sebes,
Debicando o caminho, nem o notam.
Ele prossegue, e no rosto, no passo,
No porte, uma expressão: e cada membro,
O olhar, a figura arqueada, sugerem
Um homem não movido a dor, mas sim
A pensamento. — Sem sentir, sujeito
A uma imperturbável calma: alguém
Que esqueceu todo o esforço; a quem a longa
Paciência deu aquela mansa fácies,
Dessa paciência agora nem parece
Precisar, por natureza levado
A uma paz tão total, que os novos olham,
Com inveja, o que é natural no velho.

Old Man Travelling (Um Velho em Viagem), de 1798.


Poemas retirados da obra:
WORDSWORTH, William. Poemas Escolhidos. Edição Bilingue. Selecção, tradução, introdução e notas de Daniel Jonas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2018.

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