terça-feira, 27 de novembro de 2018

um lugar à mesa: Lavoura Arcaica (1975)

The Great Plains #AmericaBound @Sheila Collette Farm

"A terra, o trigo, o pão, a mesa, a família (a terra); existe nesse ciclo, dizia o pai nos seus sermões, amor, trabalho, campo."
Da partida ao retorno, Nassar narra, com apropriações bíblicas, o drama de André, a ovelha desgarrada da família de imigrantes libaneses. André vive (e sente) o amor incestuoso e proibido com Ana, sua irmã mais nova. A impossibilidade amorosa motiva a fuga da lavoura, assim como todo arranjo familiar, pautado no patriarcado e nos valores religiosos.
“para vivermos nossa paixão, despojemos nossos olhos de artifícios, das lentes de aumento e das cores tormentosas de outros vidros, só usando com simplicidade sua água lúcida e transparente: não há como ver na singularidade do nosso amor manifestação de egoísmo, conspurcação dos costumes ou ameaça à espécie.”
Lavoura Arcaica, um romance de mais de 40 anos, carrega uma linguagem longe de ser fácil, apesar da fluidez dos pensamentos e sentimentos das personagens. Raduan Nassar divide a estrutura do texto como divide a narrativa. A linguagem e a estrutura inicial é caracterizada por longos períodos e diálogos que se colam aos relatos sentimentalistas e lamentosos do personagem, longe da lavoura e mais perto de quem narra, num fluxo de pensamento que pode, por descuido, penetrar à alma leitora. Na segunda parte, Nassar retoma as formalidades estruturais do gênero, abandona a prosa ensaística, concentra-se em diálogos e cenários concretos, lançando o seu narrador-herói à mesa da família.




Referências:
NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica. Rio de Janeiro : Record , 1989.


Nenhum comentário:

Postar um comentário