Setembro não tem sentido é o primeiro romance de João Ubaldo Ribeiro, lançado em 1968. Ambientada durante as celebrações do feriado de Sete de Setembro nos anos 60, a narrativa entrelaça duas histórias, a de Tristão, um boêmio que constantemente perturba os eventos da Semana da Pátria em Salvador com suas incessantes bebedeiras, e a de Orlando, um jornalista aposentado que vive isolado, relembrando seu passado com amargura enquanto sua sanidade se deteriora.
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delírio recortado |
Embora os dois protagonistas sejam distintos, ambos enfrentam um cotidiano marcado pelo vazio e pelo tédio, lutando para lidar com seus dilemas profissionais, intelectuais e pessoais.
Trechos do livro:
Escreveu para ele. Sim, escreveu inúmeras palavras e morreu. Talvez, se se alcança outra grandeza que não posso enxergar, talvez, se se for grande, aí, talvez, sim. Nunca saberei. Por enquanto, vivo e me irrita a inutilidade monstruosa de fazê-lo.
A QUEM POSSA INTERESSAR ou A QUEM INTERESSAR POSSA: eu, Orlando Passos, um infeliz pela própria natureza, estou escrevendo esta carta a fim de tornar bem claro o fato de que não me estou matando porque me encontre bêbedo ou maluco, mas, sim, porque é a única coisa que me ocorre fazer no momento. Tenho o defeito de perceber as coisas demais.
Como posso esperar livrar-me da obrigação de viver, produzir, trabalhar e assim por diante. Julgo que há um dever e isso me dá tanta raiva.
Todos nós morremos, contudo, primavera ou não.
Certos homens ficam imortais, outros matam, outros morrem e outros não sabem de nada.
O problema é que se deve viver e , para viver, é preciso haver razões. Mas não há razões.
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