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Aquiles Carattino | Unsplash |
Eu poderia, com toda a minha experiência literária e de vida em frustrações amorosas, dizer que esta foi uma paixão de cinema. Feroz, quente, carnal e frustrante. Quando Jack Kerouac se apaixonou por Tristessa, era certo que - não daria certo - seria uma paixão de tirar o fôlego até o fim.
Foi na Cidade do México que tudo começou. Bebidas, saco de dormir, dores e Tristessa. Tristessa foi uma prostituta mexicana viciada em morfina, com quem Karouac se relacionou na década de 50.
Curvas lindas em forma de pêra moldam a pele de seu rosto, que tem pestanas compridas e tristes, e uma resignação de Virgem Maria, e uma compleição cor de café e textura de pêssego e olhos de um mistério impressionante com uma falta de expressão de profundidade rasteira, meio desdém meio um lamento de dor pesaroso. "Estou doente", ela sempre diz para mim e Bull enroscada na almofada. Estou na Cidade do México em um táxi com os cabelos desgrenhados, e enlouquecido. [...] Vamos até a casa de Tristessa para sentar e ficarmos doidões. Tristessa já me avisou que a casa estará uma bagunça porque sua irmã está bêbada e doente e El Indio estará lá sentado majestosamente com uma agulha de morfina espetada no braço moreno, os olhos vidrados olhando para você, ou esperando que a espetada da agulha traga a própria chama e falando "Hmmm, za ... a agulha asteca em minha carne flamejante".
Vila São Jorge (GO) |
O romântico Kerouac reconhece o kitsch sentimental (pieguice!) do amor, mas também considera a necessidade da companhia e seus privilégios carnais.
Como Goethe aos 80, você conhece a futilidade do amor e dá de ombros - você dá de ombros para o beijo quente, a língua e os lábios, o puxão na cinturinha fina, toda aquela coisa quente e flutuante contra você, abraçando apertado - a mulherzinha - pois os rios correm e os homens caem das escadas.
Ainda que o sentimento de amor esteja presente, podemos ficar aliviados com o fato de que nosso guru ocidental ainda está por aqui. A narrativa é marcada pelos finos comentários que retomam o zen-budismo e o sincretismo beat.
Primeiro nivele sua mente, e então a terra estará nivelada, até o monte Sumeru.
Fiel à estrada e ao espírito mais livre que o pássaro mais selvagem, Kerouac nos presenteia com pensamentos intimistas, não se rendendo à tristeza sequer quando as coisas acabam, deixando o ensinamento de como devemos reagir ao fim (de tudo!).
A beleza das coisas deve estar no fato de terminarem.
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