quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Falso Testamento de Oscar Wilde


Em O Testamento de Oscar Wilde (1983), Peter Ackroyd, escritor conhecido no meio literário como um dos grandes biógrafos do Reino Unido, abusa da linguagem wildeana para tornar a público a vida (quase) real de  Oscar Wilde.

Numa espécie de autobiografia, Peter Ackroyd pretende trazer uma retrospectiva da vida de Oscar Wilde, desde a infância em Dublin até o exílio em Paris, apropriando-se assim de elementos biográficos e linguísticos do escritor. A linguagem é tão wildeana que facilmente poderia ser considerada escrita pelo próprio Oscar caso o leitor apressadinho ignorasse as orelhas do livro.

O livro carrega características do gênero diário, como datas, descrições de espaços, horários e outros detalhes que deixam a narrativa mais interessante e próxima da proposta de Ackroyd. A história discorre-se sobre os meses de agosto a novembro, mais precisamente até o dia 30 de novembro de 1900, quando Oscar Wilde falece.

Obviamente, Peter não acordou numa manhã chuvosa de Londres e pensou "hoje eu vou inventar uma história sobre Oscar Wilde", pelo contrário, ele teve um embasamento real - e muito cuidadoso - para falar a respeito da família, dos estudos, da homossexualidade, da prisão e dos últimos momentos do escritor irlandês.

O Testamento de Oscar Wilde é considerado por muitos um dos melhores trabalhos de Ackroyd e após um ano de sua publicação, em 1984, a obra ganhou o Prêmio Somerset Maugham, premiação britânica de literatura.

Trechos do livro


14 DE AGOSTO DE 1900
"Quando fecho os olhos, sempre vejo minha mãe na mesma posição."( p. 29)

"Em diversas ocasiões, entrava em meu quartinho e recitava coisas de sua própria autoria. Lia trechos de sua tradução de Sidonia, a feiticeira ou de suas baladas [...] Às vezes eu podia sentir o cheiro doce do álcool no seu hálito - desde aquela época, isso sempre me pareceu a companhia natural da poesia." (p. 30)

30 DE AGOSTO DE 1900
"A sociedade me assusta, mas minha solidão me perturba mais ainda. Essa sensação é mais aguda num hotel como este." (p. 74)

8 DE OUTUBRO DE 1900
"A prisão gera estranhos vícios: um deles é a ilusão de que merecemos estar num lugar daqueles, de que pertencemos aquele mundo de silencio e escuridão, como se fossemos uma criatura cega, que vive debaixo da terra. Quando saí da prisão, o céu me ofuscou e fiquei com medo de cair: pela primeira vez em minha vida tive a impressão de que o mundo era grande demais." (p. 199)


ACKROYD, Peter. O Testamento de Oscar Wilde. RJ, Editora Globo, 1987. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário