No início do prefácio, chamado propositalmente de Prefácio Interessantíssimo, de Paulicéia Desvairada (1922), Mário de Andrade já deixa claro uma “impulsão lírica", caracterizada como:
“escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita”
O impulso lírico de Andrade se mostra em Inspiração, presente no mesmo livro, no qual o poeta parece “atirar” as palavras sobre o poema. Inspiração parece uma experiência com as palavras, “Perfumes de Paris... Aryz! Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... São Paulo comoção de minha vida!”. Além disso, Mário de Andrade não parece se importar com a estrutura padronizada das poesias românticas ou dos modelos anteriores, relembrando assim seu estilo modernista – ou seria passadista com sua nostalgia?
O rompimento com o que se julga atualizado, assim como os modelos já estabelecidos e considerados eruditos, é a essência do modernismo. Não se prender aos modelos de linguagem, e até mesmo de temática, talvez seja a essência da criação lírica de Andrade, como é exposto neste trecho de seu Prefácio Interessantíssimo:
“Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada.”
Paris é a possível inspiração de Mário de Andrade, pois carrega em sua história artística mudanças impactantes quanto aos movimentos que antecederam o movimento modernista. Mário de Andrade, assim como outros artistas, trouxe e adaptou para cá o que advinha das vanguardas europeias (cubismo, expressionismo, futurismo, surrealismo e etc.).
Nota-se que, apesar de exaltar a cultura europeia- citando Arlequinal, personagem da comédia italiana, o perfume parisiense, o teatro europeu - não há eurocentrismo em seus versos, mas sim uma ponte cultural e nostálgica entre as capitais, que faz ecoar no Brasil e na América os galicismos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário