Publicado em 1941, O Colosso de Marússia (Colossus of Marussi) é um relato de viagem apaixonado sobre a Grécia, escrito por Henry Miller. Apesar de ser categorizado como literatura de viagem, Miller mistura seu relato de viagem a um ensaio transcendental, reafirmando a significância e o lugar do eu no tempo e espaço.
O domínio das grandes coisas vem com a prática da insignificância; para uma alma tímida, qualquer viagenzinha é formidável quanto uma imensa viagem para a alma grande. As viagens se fazem para dentro de e, desnecessário dizer, as mais perigosas se fazem sem sair do lugar. (MILLER, 2003, p.88)
Em 1939, motivado por amigos do meio literário e artístico, ele decide tirar férias prolongadas na Grécia, mesmo com a Europa montando o cenário para a Segunda Guerra Mundial, o escritor parece viver em uma utopia, contrastando de quando em quando com a cultura ocidental. Miller se indagava sobre como os gregos, moradores de um paraíso, como romantizado pelo autor, poderiam estar obcecados com o progresso de países mais desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos da América. Miller descreve a sociedade norte-americana como vazia e infeliz, de prazeres industrializados e conforto e tranquilidade produzidas em série, relacionando com o processo de industrialização de bens de consumo em massa.
"Naquele momento, eu me alegrei em ser livre. Livre de bens materiais, de qualquer vínculo, livre de inveja, de medo e malícia. Nunca estive mais certo de que a vida e a mente são uma só e que nenhuma delas pode ser apreciada ou alcançada se a outra não estiver presente." (MILLER, 2003, p. 29)
Na mente de um sábio moderno à procura de tranquilidade, aquilo parecia errado. Entre a capital e as ilhas, o escritor descansava e observava o cotidiano grego com as impressões de turista liberto de qualquer amarra ou, como um escritor à procura de paz, solidão e preguiça:
Nós precisamos de paz, solidão e preguiça. [...] Nós podemos sobreviver sem telefones, rádios, jornais, sem máquinas de espécie alguma, sem fábricas, sem moinhos, sem minas, sem explosivos, sem navios de guerra, sem políticos, sem advogados, sem alimentos enlatados, sem gadgets, até mesmo sem lâminas de barbear, ou celofane, ou cigarro, ou dinheiro. Eu sei que isso é um sonho. (MILLER, 2003, p. 49)
Referências:
MILLER, Henry. O Colosso de Marússia. Trad. Cora Rónai. Porto Alegre: L&PM, 2003.
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