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Funerária em Aiguá, interior do Uruguay. |
Quem nunca teve um desejo minimamente mórbido? Bem, quase ninguém, acredito. E, ainda se o tivesse, talvez não ousaria contar. Por isso, creio que é difícil colocar em planilhas esse fato.
Mas com Gaetaninho é diferente. Uma boleia num carro fúnebre era seu sonho de menino.
Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.
Gaetaninho é um conto Modernista de Alcântara Machado, datado de 1927. É uma história simples, curta e grossa trágica sobre um garoto pobre que vive em um mundo onde carros são privilégios modernistas.
Paro por aqui, para dizer que isso não é nada diferente dos dias atuais.
Voltando agora para Gaetaninho... Gaetaninho, nosso pequeno herói sonhador, desenvolve uma fascinação peculiar: o desejo de participar de um cortejo fúnebre.
Uma coisa é certa na vida, o destino é cabreiro. Veja que, num belo dia, a gurizada brincava na rua quando, Beppino, outro personagem do conto, passava a bola para o meio da rua. Nessa de salvar o jogo, Gaetaninho foi buscá-la e acabou sendo a atropelado por um bonde, o mesmo que estava seu pai.
Gaetaninho sequer realizou seu sonho, pois seu caixão foi descendo a rua, carregado pela vizinhança chorosa. Enquanto, no carro, foi Beppino que vestiu o sonho do garoto.
Agurizada assustada espalhou a notícia na noite.
– Sabe o Gaetaninho?
– Que é que tem?
– Amassou o bonde!
A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.
As peças horríveis que o destino prega
Falei de uma história com início, meio e fim. O conto fala sobre a ironia do destino. E, sem dúvida, um dos seus elementos mais marcantes desta narrativa de Alcântara Machado.O sonho de Gaetaninho, um garoto de origem humilde, era simples e complexo ao mesmo tempo. O irônico, contudo, é que a realização de seu desejo acontece de forma trágica.
- Ele morre atropelado pelo bonde onde estava seu próprio pai;
- Nem morto Gaetaninho vai na boleia do carro fúnebre;
- Quem na boléia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino.
Essa sequência de eventos demonstra como a morte, na literatura, pode ser tratada com um tom de ironia afiada e tragicômica. Mortes irônicas ou tragicômicas na literatura criam um contraste e, por vezes, até um humor sombrio.
Compartilhe nos comentários outra história da literatura em que a morte é marcada pela tragicomédia!
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