segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O tragicômico em Gaetaninho (Alcântara Machado)

Cartaz de funerária no uruguay
Funerária em Aiguá, interior do Uruguay.

Quem nunca teve um desejo minimamente mórbido? Bem, quase ninguém, acredito. E, ainda se o tivesse, talvez não ousaria contar. Por isso, creio que é difícil colocar em planilhas esse fato.

Mas com Gaetaninho é diferente. Uma boleia num carro fúnebre era seu sonho de menino.

Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.

Gaetaninho é um conto Modernista de Alcântara Machado, datado de 1927. É uma história simples, curta e grossa trágica sobre um garoto pobre que vive em um mundo onde carros são privilégios modernistas.

Paro por aqui, para dizer que isso não é nada diferente dos dias atuais. 

Voltando agora para Gaetaninho... Gaetaninho, nosso pequeno herói sonhador, desenvolve uma fascinação peculiar: o desejo de participar de um cortejo fúnebre.

Uma coisa é certa na vida, o destino é cabreiro. Veja que, num belo dia, a gurizada brincava na rua quando, Beppino, outro personagem do conto, passava a bola para o meio da rua. Nessa de salvar o jogo, Gaetaninho foi buscá-la e acabou sendo a atropelado por um bonde, o mesmo que estava seu pai.

Gaetaninho sequer realizou seu sonho, pois seu caixão foi descendo a rua, carregado pela vizinhança chorosa. Enquanto, no carro, foi Beppino que vestiu o sonho do garoto.

Agurizada assustada espalhou a notícia na noite.

– Sabe o Gaetaninho?

– Que é que tem?

– Amassou o bonde!

A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.

As peças horríveis que o destino prega

Lápide de criança com boneca e anjinho
Falei de uma história com início, meio e fim. O conto fala sobre a ironia do destino. E, sem dúvida, um dos seus elementos mais marcantes desta narrativa de Alcântara Machado. 

O sonho de Gaetaninho, um garoto de origem humilde, era simples e complexo ao mesmo tempo. O irônico, contudo, é que a realização de seu desejo acontece de forma trágica.

  1. Ele morre atropelado pelo bonde onde estava seu próprio pai;
  2. Nem morto Gaetaninho vai na boleia do carro fúnebre;
  3. Quem na boléia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino.

Essa sequência de eventos demonstra como a morte, na literatura, pode ser tratada com um tom de ironia afiada e tragicômica. Mortes irônicas ou tragicômicas na literatura criam um contraste e, por vezes, até um humor sombrio

Compartilhe nos comentários outra história da literatura em que a morte é marcada pela tragicomédia!

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