Quando falamos, escrevemos ou até mesmo pensamos, raramente nos damos conta de que nossas palavras não nascem do nada. É por isso que nasceu Michel Foucault. Para muitos, eu e você sabemos, mas também para dizer que o discurso não é aquilo que ouvimos de políticos. Não somente...
Essa trama de enunciados é o que sustenta nossas práticas sociais. Vozes, regras, exclusões e acontecimentos.
Preferiria dar-me conta de que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia desde há muito: bastar-me-ia assim deixá-la ir, prosseguir a frase, alojar-me, sem que ninguém se apercebesse, nos seus interstícios, como se ela me tivesse acenado, ao manter-se, um instante, em suspenso.
L'Ordre du discours
A partir de A ordem do discurso (1971) de Michel Foucault compreendemos como nossos enunciados são configurados por estruturas históricas e sociais muito mais profundas do que imaginamos, muito mais profunda que a própria imaginação!
Foucault insiste que o discurso é algo material. Ou seja, o discurso é aquilo que é dito, escrito, desenhado, produzido. Consegues ver? Para o pensador francês, o discurso não é apenas linguagem, mas uma prática que produz sentidos, organiza saberes e estrutura realidades. Ele é histórico, mutável e atravessado por relações de poder.
Mas, ainda que sejam produzidas essas peças, um discurso só se torna verdadeiramente um discurso quando encontra um contexto. É quando a linguagem se articula com condições históricas e sociais que ela produz efeitos de sentido. Nasce o discurso.
Somos atravessados por múltiplas vozes. Mesmo quando acreditamos falar de maneira autônoma, já estamos inseridos em uma rede de discursos anteriores. A ideia lembra a noção de polifonia de Bakhtin, que há sempre outros discursos dentro dos nossos, sustentando o que dizemos. São vozes que falam antes de nós.
A palavra das sociedades do discurso e a palavra do louco
As sociedades de discurso têm por função conservar ou produzir discursos [...] e distribuí-los segundo regras estritas.
As sociedades do discurso nada mais são que as instituições. Essas sociedades (universidades, igrejas, academias, instituições científicas) controlam a circulação de determinados discursos. Elas selecionam, regulam e preservam o que pode ser dito e quem pode dizer. Contra a corrente de quem detém a palavra estão os loucos.
Louco é aquele cujo discurso não pode transmitir-se como o dos outros: ou a sua palavra nada vale e não existe, não possuindo nem verdade nem importância.
A fala do louco é historicamente considerada inválida. Não importa seu conteúdo, seu discurso é descartado porque sua origem é marcada pela ausência de poder. Para Foucault, isso revela como verdade e poder caminham juntos.
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E o que fazemos com o nosso próprio discurso?
Desde que nascemos, já estamos imersos na bolha da sociedade do discurso. Aquela bolha que limitará nossa liberdade e moldará nossa opinião, a mesma que oprimirá, invalidará ou punirá.
Quem controla o discurso? Quem tem legitimidade para dizer a verdade? Não são os loucos - e jamais serão.

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