segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

A angústia prisional de Victor Serge

Foto de Vanessa Werder en Unsplash

Victor Serge nasceu em 30 de dezembro de 1890, em Bruxelas, capital da Bélgica. De origem russo-polaca, era filho de um militante do grupo clandestino russo Zemlya i Volya (Terra e Liberdade).

Com o sangue de revolucionário correndo em suas veias, Serge seguiu os passos do pai e começou sua luta operária aos 15 anos, engajando-se em movimentos anarquistas pela capital belga. Em defesa da classe trabalhadora, exerceu a profissão de jornalista por muitos anos, incluindo durante seu exílio na América Latina.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A paixão de Sarrasine em Balzac

Publicado em 1830, Sarrasine, do escritor francês Honoré de Balzac, é um conto que combina romance e crítica social, abordando questões de gênero, idealização do amor e a fragilidade das paixões (e relações) humanas.
Eu estava mergulhado em um daqueles devaneios profundos que dominam todo mundo, até um homem frívolo, no coração das festas mais tumultuosas. (p.7)
A narrativa começa em um luxuoso salão parisiense onde o narrador se depara com um senhor misterioso e cheirando a cemitério, como um dos personagens o descreve. Após indagações, o que fica se sabendo é a história de  um escultor francês do século XVIII, chamado Sarrasine.

sábado, 14 de dezembro de 2024

O feminino em voga: As Três Marias - Rachel de Queiroz

Três mulheres, três Marias: Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória. Três meninas enviadas a um colégio interno de freiras, onde constroem uma amizade profunda, marcada por segredos, cumplicidade e os sonhos típicos da juventude. Apesar da rigidez do internato, as três meninas encontram conforto e apoio umas nas outras, formando um fio de amizade que se estende até a vida adulta. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O direito de deitar na grama

 


Deitar na grama carrega em si a essência da preguiça e da liberdade. Não vagabundeei o suficiente, mas o pouco que experimentei foi suficiente para perceber que deitar — seja na grama, no ponto de ônibus, no banco da rodoviária, no parque ou em qualquer espaço minimamente confortável e aparentemente seguro, exige audácia, especialmente quando você é mulher.

O conto Moça deitada na grama, pois assim o interpreto, muito mais que crônica, que dá título ao livro de Carlos Drummond de Andrade, apresenta uma heroína urbana movida pela vontade e satisfação de ser o que bem deseja naquela tarde. Um ato simplório, mas implorável de se repetir, no patriarcado que se sobressai até hoje: uma mulher sozinha deitar na grama ou, simplesmente, o encontro do corpo com a tranqüilidade, fruída em estado de pureza.

sábado, 9 de novembro de 2024

Torto Arado: sobre mulheres fortes

É um livro sobre mulheres fortes. Foi o que Carla disse quando me sugeriu Torto Arado (2019) de Itamar Vieira Junior. E sobre ser uma mulher forte, eu acredito no meu potencial destrutivo e regenerativo em 28 anos de vida.

A cena da faca ainda permanece na minha mente, talvez a mais forte da Literatura  (sim, com L maiúsculo),  superando até mesmo o salto de Anna Karenina sob a plataforma de trem.

Torto Arado é a vida sofrida em sua amálgama de terra, fome, excesso de patriarcado, sangue e traumas. Transita entre coragem e medo, entre sobreviver e fazer valer o que bate dentro de nós - mulheres ou homens. Mas, principalmente: mulheres.


Cada mulher sabe a força da natureza que abriga na torrente que flui de sua vida.


terça-feira, 5 de novembro de 2024

O campo e a cidade, A Cidade e as Serras

 Li A Cidade e as Serras durante minha viagem ao Sul de Minas em junho, mais especificamente à sombra do limoeiro no Vale do Matutu, comunidade em Aiuruoca. Entre as montanhas, abri, pela primeira vez ao que me recordo, um livro de Eça de Queirós, escritor de Póvoa do Varzim, Portugal.

A Cidade e as Serras, que data 1900, possui um tom muito critico e reflexivo à modernidade que vai se moldando na virada do século. Um jovem típico da cidade chamado Jacinto depara-se com o campo, redescobrindo a leveza e a simplicidade contrastantes com o luxo e a mesquinhez alienantes cobertas de longos vestidos e chapéus caríssimos na Cidade Luz.


Não importa o século, o campo e a magnitude de suas serras ou de seus infinitos horizontes ainda são motivos para nos questionarmos o que a cidade tem a oferecer senão a mesquinhez, o egoísmo e um progresso destrutivo.
No silêncio do bosque sentia um lúgubre despovoamento do Universo. Não tolerava a familiaridade dos galhos que lhe roçassem a manga ou a face. Saltar uma sebe era para ele um acto degradante que o retrogradava ao macaco inicial. Todas as flores que não tivesse já encontrado em jardins, domesticadas por longos séculos de servidão ornamental, o inquietavam, como venenosas.

sábado, 12 de outubro de 2024

Manoel de Barros: a necessidade de ser rio, folha, pedra…


Menino do Mato (2010) é um livro de Manoel de Barros que reúne poemas que abraçam a natureza, o verde, a pedra, a primavera, o sol e tudo que compõe o universo do poeta da roça. O texto marcado pela linguagem simples do poeta matogrossense explora sua relação com a natureza. Um mergulho na infância e na simplicidade da roça com poemas impregnados de uma visão única do mundo:


Eu queria ser banhado por um rio como um sítio é.

Como as árvores são.

Como as pedras são.

Eu fosse inventado de ter uma garça e outros pássaros em minhas árvores.

Eu fosse inventado como as pedrinhas e as rãs em minhas areias.

Eu escorresse desembestado sobre as grotas e pelos cerrados como os rios.

Sem conhecer nem os rumos como os andarilhos.

Livre, livre é quem não tem rumo.


Aqui, o rio, as árvores e as pedras representam estados de ser. O desejo de "ser banhado por um rio como um sítio é" e "como as árvores são" demonstra uma profunda aspiração por uma integração completa e harmoniosa com o ambiente natural.

sábado, 20 de julho de 2024

“O boa-vida” e o ócio de Jim Powell (F. Scott Fitzgerald)

Foto de Diego Mora Barrantes en Unsplash


O conto The Jelly Bean (O boa-vida) de Scott Fitzgerald se desenrola no sul da Geórgia, durante a Era do Jazz da década de 1920. Jim Powell, um jovem norte-americano típico da época, entrega-se aos excessos do hedonismo, dividindo seu tempo entre preocupações frívolas, festas e aventuras amorosas.

sábado, 13 de julho de 2024

Heróis: divindades humanizadas ou humanos divinizados?

Na literatura, o herói se destaca como figura central, entrelaçando-se ao protagonista da narrativa. No entanto, essa concepção heroica não se consolidou de forma instantânea, mas sim através de uma evolução gradual, moldada por diversos conceitos e interpretações ao longo da história. 

sábado, 6 de julho de 2024

O que é Ideologia? Marilena Chaui

diana kereselidze (Unsplash)

Marilena Chaui, renomada socióloga, nos convida a uma profunda reflexão sobre o conceito de ideologia em sua obra O que é Ideologia?, um clássico da série Primeiros Passos. Através de uma linguagem clara e concisa, a autora desvenda a complexa relação entre ideias, valores, normas e a dinâmica social.

Para ela, a ideologia não se limita ao plano abstrato das ideias, mas também se concretiza em normas de conduta que orientam o comportamento individual e social. 

Ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas (de conduta) que indicam e prescrevem o que se deve pensar, sentir, valorizar e fazer. 

A Chaui também destaca a relação entre a teoria e a prática:

  • A teoria manda: as ideias e valores presentes na ideologia servem como base para a construção de normas e diretrizes sociais.
  • A prática obedece: já as normas e diretrizes influenciam o comportamento individual e moldam a realidade social.

O que é Ideologia? é uma leitura fundamental para quem busca compreender as forças que movem a sociedade.

Leia também:

Feminismo sem floreios: O que é feminismo?

Eu livre lendo Bakunin