segunda-feira, 16 de junho de 2025

Lições de "Cidadela" - Antoine de Saint-Exupéry

 Cidadela é, para mim, um dos livros mais sensíveis de Antoine de Saint-Exupéry, escritor francês mundialmente famoso pelo O Pequeno Príncipe.

São mais de seiscentas páginas de um ensaio narrado em primeira pessoa: reflexivo, filosófico, poético - mesmo em estrutura de prosa. A literatura saint-exupéryana - termo que sequer pesquisei se existe na Teoria Literária - é composta de sensibilidade.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Junot Díaz e a fantástica família dominicana

A fantástica vida breve de Oscar Wao (2007), escrito por Junot Díaz, é um romance que mistura tragédia e humor para contar uma história profundamente enraizada na experiência latino-americana. Embora o autor seja dominicano-americano, a narrativa atravessa as fronteiras do Caribe para tocar em temas universais — sobretudo o tal sonho americano.

Díaz também aborda as marcas deixadas pela ditadura de Trujillo na República Dominicana, as influências da vizinha Cuba, a violência, o machismo e a pobreza — tudo isso sem perder o tom sarcástico.

A capital Santo Domingo (Ronald Vargas | Unsplash)

segunda-feira, 2 de junho de 2025

"Batismo de Sangue" e a esquerda católica no Brasil

Maria Fernanda Pissioli | Unsplash

Publicado em 1982, Batismo de Sangue: guerrilha e morte de Carlos Marighella, do frade Frei Betto, é um valioso registro histórico para compreendermos a silenciosa atuação da esquerda católica durante a Ditadura Militar no Brasil. A atuação deste grupo foi profundamente marcada pela compaixão cristã, um pilar de amor, mas também de ação e revolta

Longe de se manter alheia à repressão, uma parcela significativa da Igreja Católica brasileira teceu uma rede de proteção que acolheu militantes perseguidos de todo o país e, inclusive, de outros Ditaduras pela América do Sul, oferecendo-lhes refúgio e apoio em face da violência estatal.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Thoreau: Maçãs silvestres e cores de outono

Desde os primórdios da literatura a natureza tem servido de inspiração para os escritores (nature writing), sendo cenário de devaneios e sentimentos dos mais ternos aos mais raivosos à luz de revoluções políticas e industriais.

Em Thoreau, sobretudo, podemos navegar entre ensaios políticos, acadêmicos, relatos de uma vida autossustentável e, como no caso de Maçãs silvestres e cores de outono, sobre macieiras e a beleza outonal. É momento de pausa, como férias da mente para aproveitar e discorrer sobre a simplicidade da vida.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Para cortar as amarras: Atira para o mar (Renata Pallottini)

 Quando decidimos ir, não há quem mude nossa ideia. E não há nada mais bonito que ir, respeitando a liberdade, respeitando a si mesmo - talvez o maior ato de amor e amor-próprio que podemos fazer.

Um poema sobre liberdade que mexe comigo há mais tempo do que posso lembrar é o Atira para o mar de Renata Pallottini, escritora brasileira que se destacou, sobretudo, na dramaturgia nacional. 

Dá uma lida abaixo e diz pra mim o que tu sente ao ler:

Atira para o mar as tuas coisas

abandona os teus pais

muda de nome


esquece a pátria

parte sem bagagem

fica mudo e ensurdece

abre os teus olhos.


Se o teu amor não vale tudo isso

então fica onde estás

gelado e quieto.


O amor só sabe ir de mãos vazias

e só vale se for

o único projeto.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Tristessa: amar também é para os beats (Kerouac)

Aquiles Carattino | Unsplash

Eu poderia, com toda a minha experiência literária e de vida em frustrações amorosas, dizer que esta foi uma paixão de cinema. Feroz, quente, carnal e frustrante. Quando Jack Kerouac se apaixonou por Tristessa, era certo que - não daria certo - seria uma paixão de tirar o fôlego até o fim.

Foi na Cidade do México que tudo começou. Bebidas, saco de dormir, dores e Tristessa. Tristessa foi uma prostituta mexicana viciada em morfina, com quem Karouac se relacionou na década de 50.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Nem tudo é sobre humor: charges, cartuns e tirinhas

Nem tudo é sobre fazer rir. Charges, cartuns, tirinhas ou, simplesmente, histórias em quadrinhos, são comumente associadas ao universo infantil ou geek. No entanto, se folhearmos os jornais - como na moda antiga - ou abrirmos a rede social mais próxima para observar que estes gêneros vão muito além do universo Marvel ou Disney.

Gabriel Dantas | @bifedeunicornio

Charges, cartuns e tirinhas nos fazem rir mas também refletir, seja para falar de política, celebridades e até mesmo comportamento social.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

A nossa existência em "Danúbio" (Cladio Magris)

Se há uma coisa que não posso suportar é pensar que tudo isto amanhã será história. (Magris)

Quantas pontes deveremos atravessar para perceber a infinidade da nossa História? Danúbio é o rio que corta a porção central do continente europeu. E Danúbio é o título do livro de Claudio Magris, publicado em 1986, nos minutos finais da URSS.

Ponte UFO, construída na URSS
em Bratislava (Eslováquia)

sexta-feira, 25 de abril de 2025

O que restou do Itabirito

Minas Gerais é o berço da mineração no país e também do poeta Carlos Drummond de Andrade. Em 1965, ele escreveu um poema-alerta sobre o Pico Itabirito, um amontoado rochoso constituído de minério de ferro com aproximadamente 1586 metros de altura.

Pico Itabirito em 1956 | Vitto Rocco Melillo / IEPHA-MG

O Pico Itabirito está localizado na região da Serra das Serrinhas em Itabira, uma cidadezinha no centro de Minas Gerais. O Pico encontra-se em uma área potencialmente atrativa para as mineradoras de ferro. Em 1940, o terreno foi vendido para uma companhia britânica de mineração e atualmente pertence à Vale.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Althusser, Orwell e os Aparelhos Ideológicos do Estado

Esses homens ricos chamavam-se capitalistas. Eram gordos, feios, de caras perversas [...] Os capitalistas eram donos de todo o mundo, e todas as outras pessoas eram escravas deles. Eram donos de toda a terra, todas as casas, todas as fábricas, todo o dinheiro. (ORWELL, 1984)

Vivemos em um Estado, mas acima de tudo, sob o poder dele. O Estado, como um sistema movido por elementos com significância maior ou menor, funciona por suas instituições ou aparelhos, como denomina Louis Althusser. Nós vivemos e transitamos por esses aparelhos. Aqueles aparelhos ou instituições que não agem por meio da repressão física (ARE: Aparelhos Repressivos de Estado), são denominados Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE). A forma de repressão dos AIE, é pacífica, ou seja, a ideologia ou um conjunto de ideias e ideais são impostos ou disseminados pela manipulação.